ATOS QUE DESAFIAM A VIDA E A MORTE- Capítulo 2

“Nunca aposte a sua cabeça com o Diabo!” (Edgar Allan Poe)

Eu havia decidido vender a minha antiga propriedade. Não me sentia totalmente seguro ainda, porém minha decisão estava “quase” tomada.
         Não sabia ainda muito bem o que fazer. Estava tão confuso! O tempo passando e as dúvidas surgindo com cada vez maior intensidade.
         Vender ou não vender? Eis a questão!
         Eu poderia fazer mil coisas com aquele dinheiro. Reformar meu antiquário, minha casa, adquirir peças raras... Seria um luxo que não me era permitido naquela época.
         Mas, por outro lado eu poderia ser roubado, tapeado, enganado e atirado na lama. Aquele Galeno era muito esquisito pro meu gosto. Eu ainda não conseguia engolir esse sujeitinho, meio janota, com ar forçado de profissionalismo sério. O tipo de gente que dissimulada em demasia que eu nunca apreciei.
         Cara estranho!
         Boa coisa não poderia estar querendo. Por que alguém estaria disposto a desembolsar uma pequena fortuna por aquele elefante branco? E por que o cara (ou a mulher) não queria se identificar? Isso fervia em meu cérebro como chumbo derretido.
         O duro é que aquela proposta era tão... tentadora! O racional seria não aceitá-la, mas meu Deus! Eu estava precisando de dinheiro. Os negócios não iam muito bem naquela época.
         O dinheiro estava me seduzindo.
         Decidi abandonar as minhocas que pulavam e rebolavam em minha cabeça e decidi que estaria irrefutável em minha decisão. EU VOU VENDER E ACABOU! DANE-SE!
         No dia seguinte, precisamente às dez da manhã, lá estava o bem alinhado sujeitinho em pé, à frente do balcão da minha estimada loja.
         -Puxa vida!- eu disse com uma ponta de sarcasmo- Você é pontual como um inglês.
         -É que o meu trabalho exige essa qualidade- disse o advogado mostrando indiferença ao meu comentário ridículo- Agora vamos aos negócios. Decidiu-se?
         Eu estava ansioso para dizê-lo:
         -Eu aceito.
         O advogado pareceu muito contente com o que tinha ouvido.
         -Ótimo, uma excelente escolha. Vou informar meu cliente o mais depressa possível.
         -Não vai mesmo me dizer quem seria essa personalidade misteriosa?
         -Infelizmente não posso. Mas fique certo de que tudo correrá bem.
         -Será que eu deveria mesmo confiar em você? Que garantia tenho eu de que você e essa incógnita não estão me enganando?
         -Tem a garantia de minha palavra, Fernando.
         -Sua palavra não me serve de nada. Droga, eu nem conheço você!
         -Infelizmente eu não poderei fazê-lo acreditar em minha honestidade- disse, calmamente- Mas asseguro que tudo correrá perfeitamente bem.
         -Essa seu tom pacífico me assusta. Deveria ser padre ou coisa que o valha. Essa atividade exige muita paz de espírito e silêncio. Qualidades translúcidas em você.
         O rapaz riu com discrição:
         -E você tem vocação para humorista. Bastante senso de humor mesmo.
         -Sério?- respondi ironicamente.
         -Sim.
         Galeno estava imperturbável.
         -Olha, é muito agradável conversar com você- eu disse com escarninho indisfarçado- mas preciso saber como realizaremos os negócios.
         -Ainda pretende realizar os negócios?
         -É claro que sim! Por acaso eu afirmei que havia desistido?
         -Tudo bem, eu ficarei no encargo de representar o comprador. Darei mais informações em breve. Até mais.
         O cara desapareceu num segundo.
         A essas alturas eu já não entendia mais nada. Essa conversação toda se passou num instante e já estava ficando mais uma vez com medo de ter caído do cavalo. Mas agora já era tarde. Não poderia mais voltar atrás.
         Durante três semanas, eu e o advogado estivemos tratando das papeladas da venda do imóvel. Tudo corria numa rapidez incrível. Era sempre Galeno quem vinha me procurar. O cara mostrava-se atencioso comigo. Estávamos sempre conversando e começamos a entrar numa relação de quase-amizade, apesar de eu não ir muito com a cara dele, como já havia deixado bem claro. Mas ele parecia ser um rapaz decente. Não falava muito sobre ele e não consegui arrancar muito sobre a sua vida pessoal. Era fechado como uma ostra.
         Quase todos os dias, lá estava o rapaz em frente ao meu balcão, exatamente às dez em ponto, nos mesmos trajes habituais, para tratarmos do negócio. Eu via tanto papel, mas não via o comprador. Tentei várias estratégias para descobrir alguma coisa, porém todas infrutíferas.
         A pessoa era misteriosa como o Diabo!
         Eu também não via o dinheiro. Ou sinal dele que fosse. Já estava quase tudo certo, mas ainda não havia recebido o meu. Comecei a acreditar que tivesse sido roubado. Por longos dias fui enrolado com promessas de que logo teria meu dinheiro. Já estava nervoso com a situação. Não dormia mais. Comecei a ficar fisicamente e mentalmente debilitado. Minha situação financeira também. Uma noite, de tão nervoso, ardi em quarenta graus de febre. Sonhos e pesadelos daquele mesmo tipo que tive anteriormente continuavam a perseguirem minhas noites tenebrosas.
         Decidi que teria o meu dinheiro, de uma forma ou de outra. Eu não seria enganado.
         Quem será a pessoa misteriosa e o que ela quer comigo?

CONTINUA...




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