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Mostrando postagens de 2016

PADRE MARQUES ENTRE A CRUZ E A POLÍTICA

- A política é a minha vida- repetia o notório Padre José Marques, conhecido (e muito politizado) vigário da Igreja Matriz de São João Batista no início do século XX, a todos aqueles que contestavam e criticavam o fato de um pároco envolver-se no campo político como ele havia feito há alguns anos.             Padre Marques (como era conhecido) era um sujeito astuto, esperto como um gato e portador de uma lábia melíflua, capaz de convencer a qualquer um por mais cético que este fosse, em suas homilias muito bem elaboradas e de palavras escolhidas a dedo, fazendo-se entender por até aquele matuto analfabeto residente na área rural mais afastada da cidade. Seu metro e setenta e corpo magro metido em uma batina de cor escura, a cabeça grisalha e altiva e o sorriso evidente faziam dele uma figura adorada e reverenciada em toda a cidade. Era respeitado e amado de um modo maquiavélico, como se ele fosse o próprio senhor do equilíbrio da...

HOTEL CORAZZA

Nas noites de sábado na cidadezinha semi-pacata de Capivari, a rotina de muitos jovens não é diferente das outras cidades. A praça central fervilhava de garotos e garotas à procura de um pouco de diversão, andando em bandos ou grupos de amigos, às vezes sem rumo, outras vezes em busca de “caça” (se é que me entendem). Capivari não oferece muitas opções de lazer, porém este não é um motivo para segurar a juventude dentro de suas casas, a despeito de pais e mães preocupados com seus filhos nesses “embalos noturnos” dos finais de semana.             E foi numa noite como essa, um sábado quente e abafado, que Fernando e seus dois amigos Raul e Felipe perambulavam pelo centro da cidade, cada qual com um sorvete na mão e tagarelando sobre assuntos diversos. Eram três rapazes com a idade de dezoito anos, inteligentes e que possuíam em comum interesses diversos por ficção, música e histórias aterrorizantes. Estudavam no Instituto Federal...

UM TURBILHÃO DE PENSAMENTOS DESORGANIZADOS

Quantos dias ruins são necessários para transformar o mais são dos mortais em um lunático? Um? Dois? Bom, ainda não sei responder. Basta eu dizer que do decorrer desses vinte e poucos anos de minha ínfima existência já tive inúmeros dias ruins, dias que em vão tento esquecer, dias que pesarosa desejaria que se apagasse para sempre, como areias sopradas ao vento que somem em poucos instantes. Sim, eu já tive muitos dias péssimos, porém nada disso ainda afetou minha sanidade (assim eu acho, risos).             Estou utilizando toda essa metáfora criada pelo Joker apenas para resumir os sentimentos atuais de muita gente, um misto de desespero e confusão que também serve de algum modo para mim. Não que meus dias tenham sido extremamente ruins, pelo contrário. Muitas realizações pessoais estão por vir, porém existe aquele pitaco desagradável que a consciência nos dá como uma forma de nos deixar depressivos quando estamos naquela fase ...

TIA CATARINA

No momento em que decidi pegar a caneta para relatar os últimos fatos ocorridos senti como se estivesse em uma empreitada que porventura me libertaria da angústia na qual venho mergulhado desde o fatídico dia que... Bom, isso eu terei que relatar desde o início. Devo prevenir o leitor que tenho o péssimo costume de contar uma história pelo fim e, se caso não entender a minha, peço as mais sinceras desculpas. Prometo tentar encaixar os fatos de acordo com a sua cronologia exata, mas temo que velhos hábitos sejam difíceis de mudar. Hoje faz uma noite fria e ouço um barulho intenso vindo do lado de fora, o vento rugindo com total voracidade. O medo parece estar presente no ar gélido da noite, sensação a qual me traz as lembranças mais medonhas que reuni durante minha parca existência. Mas chega desse monólogo de um pobre presidiário que se encontra na mais profunda decadência. Droga! Acho que já revelei ao público que sou um criminoso. Eu avisei que tinha mania de inverter a ordem dos fa...

CRÔNICA DE UMA GEMINIANA EM CRISE

             O que fazer quando não se tem mais certeza de nada? Quando tudo aquilo que antes causava um imenso prazer torna-se tão trivial e monótono? Quando aqueles planos grandiosos para o futuro agora não possuem mais importância? Até porque quando olho para o meu presente vejo que as infinitas aspirações relacionadas à minha carreira não deram tão certo assim... vários dos meus objetivos ainda não foram alcançados. Talvez eu jamais os alcance. Pode me chamar de pessimista. Eu não ligo.             No início do ano acreditei que seria capaz de mudar as coisas. Uma grande onda de boa sorte invadiu minha existência e eu me vi realizando o meu American Dream. As promessas foram grandes e as ambições maiores ainda. Agora, cumprir essas promessas, meu caro... torna-se outra história!             Mas como tudo na vida tem um malfadado porém...

MEMÓRIAS DE UM SERIAL KILLER- Capítulo final

Capivari, 12 de março de 2016. - John, me explique agora o que está acontecendo! Diana agora falava com exasperação e toda aquela calma e doçura que ela possuía costumeiramente em sua voz havia se transmutado em um grave tom de repreensão. Ela era uma mulher espirituosa, muito mais séria do que aparentava em seu rosto de feições delicadas e muito alvas, seus enormes olhos claros e profundos e seus lábios finos e pálidos de anemia. Eu sabia perfeitamente que quando assim falava comigo, algo muito grave havia acontecido e era mister que eu me preocupasse com a situação. - Explicar o quê? - Você sabe muito bem, John. O que aconteceu com você esta noite? Estávamos sentados em nossa sala de estar enquanto tínhamos essa conversa. As vozes ainda ruíam em minha cabeça, o eco produzido da noite anterior parecia martelar em minha massa cerebral. Tudo aquilo se fazia muito confuso. Eu sentia que algo estranho estava prestes a acontecer. Ou já havia acontecido. Não sei dizer com exati...

MEMÓRIAS DE UM SERIAL KILLER- Quarto capítulo

Capivari, 08 de março de 2016.             Pouco antes de voltar a escrever estive mergulhado na escuridão doentia do meu quarto. Meus olhos se fixaram no teto e eu contava as teias brilhantes que sobressaíam nos cantos das paredes. As aranhas negras pegavam suas vítimas e comiam seus interiores. Eu observava toda aquela operação em um silêncio respeitoso, como se aqueles insetos fizessem parte de minha alma e eu me identificasse profundamente com eles. Claro com as aranhas. O reino animal é bem variado, cheio de brutalidades que o homem sequer pode imaginar. Certa vez ouvi falar de uma espécie de vespa que põe seus ovos no abdômen de um aracnídeo para que suas larvas “suguem” seu sangue e a devorem depois. Há inúmeros tipos de abominações demoníacas na natureza. É então que eu penso na seguinte questão: Se existe um Deus misericordioso por que é que Ele permite isso? A resposta para esse questionamento é bem evidente: simp...

MEMÓRIAS DE UM SERIAL KILLER- Terceiro capítulo

Capivari, 27 de fevereiro de 2016.                              Meu Deus o que está acontecendo comigo?             Acordei no meio da madrugada, desesperado. Um turbilhão de vozes rugia e ria histericamente em uma entoada dos mais diversos sons. Meu corpo todo formigava e minha cabeça rodava como se eu estivesse muito bêbado. Sentia como se eu fosse explodir em trilhões de pedaços.             Chega! Chega, por favor!             Mas elas não me ouviam implorar. A balbúrdia era tamanha que a minha voz era apenas um sussurro imperceptível. A confusão na minha cabeça durou cerca de meia hora e, como em um passe de mágica, desapareceu.             Estou completam...